Open source: Migrar ou não migrar, eis a questão


2012-11-06


Reportagem do Portal Semana Informática sobre software opensource onde sou citado depois de uma entrevista concedida uns meses antes à revista Semana Informática.

Não há dúvidas de que o software open source é uma alternativa aplicacional que traz inúmeras vantagens, mas a migração para estes produtos, como qualquer projecto desta natureza, não está isenta de riscos. Os especialistas aconselham a não generalizar e a gerir bem a mudança.

É uma alternativa ao software proprietário e assenta numa filosofia diferente de desenvolvimento. Embora muitas empresas já se tenham rendido às vantagens do software open source, há ainda as que por falta de informação ou por reticências quanto à validade efectiva deste tipo de software lhe resistem, alegando que o freeware não cabe nas suas estratégias aplicacionais.

Os especialistas garantem que as empresas precisam de perceber que o software open source é muito mais do que software gratuito. O open source fundamenta-se na ideia de compartilhar o conhecimento, tendo como fim beneficiar o todo. O código-fonte dos produtos deixa de ser um património exclusivo de poucos e passa a ser algo colectivo, utilizável por quem queira simplesmente adicionar valor ao seu negócio ou actividade.

Não menosprezando as resistências, José Magalhães Cruz, professor do Departamento de Engenharia Informática da FEUP, considera que o requisito mínimo para fazer a migração é ter vontade de a fazer. «Exceptuando os raros casos em que possam não existir ferramentas de software capazes de processar a informação da empresa da forma necessária, uma migração é sempre possível», garante este especialista.

Mas para que a migração se concretize, é preciso ter informação suficiente, de modo que essa mesma migração conserve as funcionalidades aplicacionais existentes.

Luís Cordeiro, responsável por uma das empresas incubadas na Católica do Porto, explica que no caso de a migração implicar a transferência de base de dados parasoftwares open source, é necessário ter a certeza de que ambos os softwares comungam das mesmas normas para a estruturação de dados.

Pelo contrário, perante pequenas aplicações open source, produzidas para efeitos muito particulares e com grande utilização, é normal seguir-se um protocolo comunitário. «Ou nos oferecemos voluntariamente para ajudar a desenvolver/melhorar o software, ou dá-se um donativo à equipa que o desenvolve, ou existe ainda a possibilidade de fazer publicidade ao software», justifica este responsável.

 

Independência tecnológica

A independência é uma das grandes vantagens deste tipo de aplicação, que, não estando fechada em protocolos ou interfaces proprietários, dá às empresas uma liberdade de escolha sem igual. «Existem diversos documentos e casos de estudo de procedimentos e de operações de migração bem-sucedidas», avança o professor do Departamento de Engenharia Informática da FEUP.

Segundo José Magalhães Cruz, para iniciar um projecto neste âmbito, a empresa deverá procurar e recorrer aos serviços de empresas especializadas de consultoria (capazes de fazer o acompanhamento técnico da migração) ou contratar, para serviço próprio, informáticos com formação em tecnologias open source.

Francisco Nina Rente, investigador da Universidade de Coimbra, tem a mesma opinião. «Uma das mais-valias do mundo open source é fornecer um inúmero conjunto de peças de Lego, que têm que ser correctamente encaixadas entre si para se construir um castelo robusto e duradouro», sublinha este especialista.

Ao parceiro que for escolhido para este tipo de projecto deverá ser «exigida e validada a garantia de independência tecnológica, bem como a disponibilização de toda a informação necessária, para que uma eventual troca de fornecedor seja feita de forma sustentada», defende o investigador.

Obviamente, a extensão e os pormenores de uma migração estarão sempre dependentes da empresa que deseja migrar e das suas contingências particulares. «Não existe uma solução open source completamente adequada às necessidades muito específicas de uma dada empresa; uma migração é possível, mas não isenta de riscos», assegura o professor do Departamento de Engenharia Informática da FEUP.

 

Firmeza na decisão de mudança

O mau ou incompleto planeamento da migração pode conduzir a situações de transição demoradas, não permitindo a manipulação e a conversão da documentação digital necessária à operação normal da empresa. Da mesma forma, o insuficiente ou mau apoio técnico no que respeita à formação do pessoal da empresa ou ao atendimento e à correcção de situações que exijam uma actuação rápida poderá ser um travão à mudança.

O investigador da FEUP alerta ainda para potenciais situações de boicote das empresas que costumavam fornecer o software fechado anterior, que poderão dificultar ou mesmo impedir a conversão da informação digital da empresa em formatos electrónicos acessíveis por ferramentas abertas.

«O facto de o closed source não ser consonante com standards abertos e universalmente aceites pode representar uma das grandes desvantagens para uma possível migração, no sentido em que mantém a empresa presa a um formato de dados que não lhe é acessível e perceptível», assume o investigador da universidade de Coimbra.

A questão da documentação e dos manuais deverá também ser tida em conta. Luís Cordeiro, da Católica do Porto, diz que a questão das plataformas open source viverem muito das contribuições das comunidades na Internet deve ser olhada com atenção, para que o funcionamento correcto dos softwares não seja posto em causa.

«Caso os funcionários da empresa tenham um conhecimento médio da utilização desoftware open source, é fácil separar o trigo do joio para que a documentação acedida seja a mais pertinente numa determinada circunstância; nas plataformas open source a documentação acaba mesmo por ser excessiva em algumas situações», acrescenta o responsável.

Não sendo isenta de riscos, uma migração para open source pode ser levada a bom porto como qualquer outra. O professor do Departamento de Engenharia Informática da FEUP diz que para isso basta que exista «um bom planeamento da migração, pela firmeza na decisão de mudança, pela evangelização e formação de todo os funcionários da empresa e pelo apoio técnico continuado durante toda a fase de transição e, de forma mais ocasional, durante a operação futura, normal, da empresa».

Segundo José Magalhães Cruz, a migração não dispensa o envolvimento de uma empresa e a utilização de serviços continuados e pagos, mas «dá à empresa a possibilidade de escolher livremente os fornecedores desses serviços, do que resultará, pelas leis do mercado, uma expectável poupança de gastos».

 

Licenças de software

Tal como qualquer software, os produtos open source também estão sujeitos a licenciamento que especifica, de forma legal, o que o utilizador pode ou não fazer. Estas licenças estão normalmente disponíveis nos sites dos projectos, no programa de instalação do software, junto com os arquivos de código-fonte ou em anexos.

*GNU General Public Licence (GPL) – Os trabalhos derivados de produtos com esta licença passam também a estar obrigados por ela, ou seja, o seu código-fonte deverá ser sempre distribuído à comunidade.

BSD – Permite o uso integral ou parcial do código-fonte em programas proprietários. Neste caso, exige-se que sejam sinalizadas no produto ou no canal de distribuição as notas de copyright das componentes de código que o software utiliza.

*MIT e a LGPL – Estas licenças seguem as linhas orientadoras da GPL, com a diferença de não exigirem que os trabalhos desenvolvidos sobre um produto GPL fiquem obrigados à mesma licença.

*Licenças duplas – Os projectos que incluem uma licença GPL e outra comercial.

 

As liberdades básicas do software open source, segundo a Free Software Foundation:

Liberdade de utilizar o software;

Liberdade de estudar o código-fonte e o funcionamento do software e de o adaptar às suas necessidades;

Liberdade para melhorar o produto e para disponibilizar os avanços alcançados à comunidade;

Liberdade para distribuir cópias do software à comunidade aberta, com ou sem modificações.



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